domingo, 25 de julho de 2010

Era um rapaz magro, amarelo de barba cerrada (não daquelas charmosas, e sim, daquelas que não se tem tempo e talvez até água para fazer todos os dias), estava parado numa calçada, lendo jornal, cabeça baixa, parecia que esperava alguém, algo, um ônibus, ou talvez, o amor da sua vida.


Do outro lado da rua vinha uma moça e um cachorro, uma moça pequena, de olhos escuros, e cabelos mais escuros ainda, não era linda, mas assim como o rapaz magro, não era de se jogar fora, vinha desajeitada, ela e seu cachorro em direção a um gramado, perto da calçada em que o rapaz magro se encontrava. Ela andava desajeitada, passeando com seu cachorro, tentando encontrar algo, alguém, um ônibus ou talvez o amor da sua vida.

Eles eram caçadores. Eram presas. E se aquela moça pequena tivesse atravessado o gramado, e se ela tivesse passeado na calçada, e se o cachorro tivesse corrido descontrolado, e tivesse ‘atracado’ a calça do rapaz, rasgando ela, podia ser que os dois tivessem finalmente encontrado o que tanto procuravam. Podia ser que eles tivessem ‘se encontrado’, mas não foi dessa vez. Não foi essa moça. Nem esse rapaz. O cachorro não foi o elo. O gramado não foi atravessado. A calçada estava vazia, só ele e o silêncio.

O rapaz atravessou a rua e foi-se embora, a moça pegou o cachorro e tomou o rumo contrário, os dois se foram. Para suas casas, para seus pseudo-amores, para suas vidas, suas rotinas, para seus vazios. E eles continuam procurando, algo, alguém, um ônibus ou até mesmo o amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário